27 de fev. de 2012

.: CACHORROS NÃO SABEM BLEFAR :









Brilhantemente elaborado, a Cia Cinco Cabeças surpreende com uma peça de diálogos absurdos.
Seguindo um viés de “Jogos Mortais” e “Cubo”, cinco pessoas se encontram em um lugar que não conhecem. E não se conhecem. E não se reconhecem. E a partir daí, os diálogos são tecidos de uma forma inteligente, dinâmica, e bem metamorfoseada. No palco, um sofá, uma banheira e uma mesinha com telefone.
Uma das personagens questiona: “Estou nua? Pois quando o Rei achou que estava vestido, ele estava nu... então, como estou?”, aludindo ao conto de fadas “A roupa nova do Rei”, de Hans Christian Andersen. Os nomes também são questionados. Ninguém sabe ao certo como se chama. Pode ser que eu não goste do meu nome e queira mentir.
O relógio insiste em marcar a mesma hora. O tempo não pára ou o tempo é uma metáfora? Afinal, o que é o tempo?
Outros diálogos são bem construídos, como uma mulher que não quer morrer virgem e também não sabe chorar. Seu namorado, Caio, é seu maior suplício. É um médico cardiologista que não sabe lidar com os problemas da alma. Se encaixa bem no papal de pai da Amélie Poulain. Mas o sadismo de Caio é tanto, ao ponto de fazer a namorada cortar cebolas para aprender a chorar.
Não seria interessante contar tudo, apesar se eu mover os dedos inquietantemente na vontade de escrever cada detalhe desta peça intrigante.
O ápice da peça é quando os personagens chegam a conclusão de que somente os cachorros não sabem blefar. No meio daquele desespero de estarem trancados sem se conhecerem e num ambiente cheio de enganações, somente os cachorros conseguem ser verdadeiros todo o tempo. E não, não existe nenhum cachorro entre eles. Apenas um Caio que eles não conhecem. Ou todos seriam Caio’s prestes a cair???
O telefone toca. Sim, há um CAIO entre eles. Caio, que pode ser um verbo ou um nome, Alguém está mentindo? Alguém está prestes a cair? 
As metáforas são muito bem colocadas. O telefone cumpriu seu papel de BIG FONE. E os bigs não eram brothers.
O questionamento invade a platéia como um grito que sai seco da garganta. A peça garante risadas e reflexões.
A iluminação de Marina Arthuzzi caiu como uma luva no palco. A produção deixa bem claro que aquela peça foi construída sem incentivo algum. E com muita maestria e pouco dinheiro, a Cia conseguiu criar uma peça inteligente, dinâmica e reflexiva, fugindo de todo o besteirol que nos rodeia. Sim, são 5 cabeções bem dispostos a espalhar cultura e superando todas as dificuldades.
A peça foi aplaudida de pé. E todos ficaram com medo do Caio! Caio, que Caio? Não pode ser Mário?

Os cinco cabeçudos em cena. Valeu a pena!!

"CACHORROS NÃO SABEM BLEFAR" pertenceu ao Verão Arte Contemporânea e não está mais em cartaz!
Estamos de olho e ansiosos para vê-los novamente!!!

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